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Eu na Arena! De repente, Roland Garros!
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Nunca fui espectadora fiel de nenhum esporte, provavelmente porque quando jogadora sempre fui meio desajeitada. Em qualquer modalidade, a bola e eu nunca fomos grandes companheiras, desde os tempos em que eu era a última a ser escolhida nos times da escola. Nem por isso levei uma juventude sedentária: pelo contrário, acredito que foi justamente esse desarranjo com as quadras que me levou a praticar balé por mais de dez anos e a me tornar uma espectadora quase exclusiva de dança. Plateia para mim se relacionava automaticamente com coreografia, dificilmente com algum esporte.

Essa paixão artística me levou a uma pós-graduação na área socio-cultural em Paris. Apesar de morar bem de frente para um dos maiores estádios da cidade, passei os anos de 2011 e parte de 2012 alheia aos campeonatos dali, como costumava fazer em São Paulo.

Até que em junho recebi a visita do meu irmão, fã de tênis, que se surpreendeu ao ver que as partidas decisivas de Roland Garros estavam acontecendo ali tão perto e eu nem me havia dado conta. A empolgação dele me contagiou e também convenceu meu namorado Arthur (na foto ao lado), que tampouco se liga em campeonatos esportivos. Depois de uma dor de cabeça tentando achar ingressos de última hora pela internet, só encontrávamos entradas que superavam os 100 euros para um único dia.

Quando já estávamos desistindo, encontramos meio escondido um link para um ticket que me soava uma cilada: um bilhete que permitia entrar a partir das 4h da tarde, já no terceiro dos três jogos diários. Para quem tenta a sorte aí, resta torcer para que o segundo jogo enrole nos empates, ou que por alguma zebra um jogador renomado tenha caído para essas horas finais na chave. Além de custar menos de 30 euros, as filas provavelmente não seriam tão longas, o Sol já daria uma trégua, e algum tenista célebre poderia dar as caras, para a alegria do meu irmão. Resolvemos arriscar.

Para nossa surpresa, conseguimos lugares muito bons para assistir ao badalado francês Jo-Wilfried Tsonga contra o novato alemão Cedrik-Marcel Stebe. Nada mal para quem quase desistiu! Bastam alguns minutos em Roland-Garros para notar uma organização impecável que deve ficar de exemplo para todos os esportes, assim como a educação e o respeito da plateia.

Logo nos primeiros lances, flagrei meu coração vibrando com cada ponto. Eu que jamais me imaginaria muito envolvida com qualquer partida, notava minha respiração suspensa durante aqueles milésimos de segundos a esperar a perigosa queda da bolinha. Assistir ao francês em seu próprio país completava o clima, já que praticamente todo o público dava uma força especial para seu compatriota, enquanto estampava azul, branco e vermelho por todos os lados. Depois de quase três horas e interrupção pela chuva, essas vibrações ajudaram Tsonga a passar para a fase seguinte.

Algumas unhas roídas depois, voltei para casa com uma imagem totalmente diferente do tênis, que com sua reputação pacífica e disciplinada tem muito a ensinar a outras modalidades. Mais do que isso, percebi que muitas vezes uma postura um pouco arredia a campeonatos não passa de um desconhecimento gerado por puro preconceito. Um episódio assim mudou minha maneira de pensar não apenas sobre o esporte, mas sobre meu posicionamento em relação a tantas outras práticas que eu deveria estar mais aberta a conhecer.

* Aline Khoury tem 23 anos e é socióloga


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