Muay thai das academias promove interação entre lutadores e dondocas
UOL Esporte
Queridinho de atrizes como Stephany Brito, o muay thai atrai cada vez mais mulheres nas academias (Crédito: Divulgação Dieta Já)
Por volta das 22h30 – horário em que Marlene Lopes, dona de uma das mais importantes equipes de muay thai do país costuma ministrar sua última aula do dia -, uma aluna avisou que precisava fazer um telefonema de emergência. Do outro lado da linha, uma manicure atendeu. O pronto-socorro era para recolocar uma unha postiça, quebrada durante a intensa aula. “Elas treinam de unha postiça, brinco, cordão”, afirma a professora (na foto abaixo), que começou no esporte aos 14 anos, em 1986.
A exposição de famosas como Fernanda Souza, Carolina Dieckmann e Christine Fernandes exibindo os gominhos de suas inexistentes barrigas como relíquia da modalidade que queima cerca de 800 calorias por aula tem feito mais pela divulgação do esporte no país do que o fato de o muay thai ser a principal arte marcial praticada por Anderson Silva. Hoje, aulas da luta antigamente conhecida como boxe tailandês fazem parte da grade de horários de todas as grandes redes de academia de ginástica do país. E atraem um público diferente daquele que costuma frequentar as aulas de luta em geral: mulheres. Vaidosas.
Na academia carioca onde Marlene trabalha, as mulheres já são maioria nas suas aulas – 60%, ela estima. Uma invasão de alunas de fitness onde antes se concentravam homens. Seria natural esperar que a mistura criasse alguns atritos e estranheza, mas não é bem assim, garante Marlene.
“Antes, as pessoas que ministravam aula focavam muito no nível competitivo. Atualmente, o muay thai é a busca pela qualidade de vida. Está bem legal com as meninas”, diz. “Hoje, o muay thai é integração. Tenho um aluno que dá aula para uma turma regular que tem um jovem com síndrome de Down e um senhor de 82 anos entre os integrantes”.
Integrar alunos de todos os níveis – e com diferentes interesses, seja virar uma estrela do MMA, seja poder usar um biquíni branco no fim do ano – é responsabilidade do bom professor, acredita Marlene. Além dos cuidados mínimos, como a formação do profissional e sua filiação a associações específicas, “é preciso também um olhar da academia”. “Acredito que todas as academias deveriam ter aulas por níveis, mas já que o mercado ainda não permite isso, vai muito do olhar do professor. Ele não pode excluir”, afirma.
No caso de Marlene, a história pessoal a ajuda ainda mais a trabalhar pela amplitude do esporte. Quando ela começou no muay thai, oriunda do taekwondo e levada pela irmã, as mulheres praticamente inexistiam na modalidade. “Eu e ela tínhamos que lutar uma com a outra ou com meninos nas apresentações”, diz.
A falta de adversárias impediu que ela tivesse uma carreira de competição, que ela compensa hoje liderando a equipe que leva seu nome. “Os meninos diziam que a gente trocava porrada de igual pra igual. Sempre fui respeitada. Existia um certo preconceito, ainda existe, não como antes. Claro que sempre tem uma pessoa ou outra que olha de lado, mas isso acontece se você é mulher, se está acima do peso, se é negro…”.
Ao lado de seus alunos veteranos, ela treina meninas que vieram da dança e as donas zelosas de unhas postiças. A integração, por si só, já é classificada pela professora como “positiva”. Mas as mulheres que buscam o muay thai atrás de uma barriga sequinha podem acabar levando mais do que pensam, diz Marlene. “A arte marcial te dá uma maneira de olhar diferente. A própria vivência de um condicionamento mais forte, lidando com meninos, talvez com machismo, dá uma outra postura”. E, se elas ganham com os fundamentos do muay thai, a luta também ganha com a expansão promovida pelo interesse delas? “Com certeza!”
(Por Carina Martins)
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