Meninas trocam ‘solidão’ das academias por futebol em busca de diversão e boa forma
UOL Esporte
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A historinha de que futebol é assunto de menino ficou para trás há tempos. As mulheres já marcam presença em bom número nas arquibancadas dos estádios e também comandam o controle remoto da TV de casa em dia de jogo. Porém, agora elas estão trocando literalmente o salto alto por tênis e chuteiras e indo a campo.
A maioria, cansada da monotonia das academias, das inúmeras repetições e da pouca interatividade entre os alunos, vê nas tradicionais peladas de futebol uma chance de praticar uma atividade física e ainda fazer novas amizades.
“No início, o foco principal era uma alternativa à academia. Vamos fazer exercício, conhecer novas pessoas e um esporte novo, porque academia é aquela rotina, não é um esporte coletivo”, conta Ana Alice Oliveira, mais conhecida como Bibi, uma das fundadoras do Pelado Real, time de futebol formado há um ano e meio em São Paulo.
“O Pelado Real começou com uma menina que não sabia jogar e nunca tinha jogado antes. É muito legal esse esquema dos homens de se juntar e jogar bola junto. É mais que jogar bola, é um ponto de encontro. O futebol é meio que secundário, só que é o principal”, continua Bibi, que aos 26 anos é formada em administração e marketing, mas abandonou a carreira para se dedicar exclusivamente ao Pelado.
A busca por uma atividade diferenciada e a paixão pelo futebol também foram fatores que levaram a jornalista Lena Castellón a recrutar as amigas para montar recentemente um time de futebol, retomando uma atividade de dez anos atrás.
“O que me incentivou foi mesmo a paixão pelo futebol e a vontade de ter uma atividade física. Gosto de futebol desde menina e escolhi o Palmeiras sem influência de pai, tio, padrinho ou irmão. Joguei de menina, com os moleques na rua, mesmo com a bronca da mãe e com os garotos dizendo que eu era muito pequena (mas eu defendi a bomba do Juarez, o menino mais forte do barro). Como boa apreciadora de futebol, passei a acompanhar profissionalmente no início da carreira e sempre quis jogar de verdade. Fiz isso há uns dez anos, quando formei um time com as mulheres da editora em que trabalhava”, explica.
Uma das recrutadas por Castellón foi Claudia Rezende, sócia-diretora de uma agência de comunicação, que reconhece que optou pelo futebol graças ao convite da amiga e tem que encarar apenas uma reclamação do marido.
“Meu marido não assiste e nem joga futebol. Digamos que ele reclama pelo fato de o treino ser à noite”, conta.
Mesmo com a invasão feminina no mundo da bola, as mulheres ainda reclamam de preconceito e lutam para atrair novas amigas para o esporte.
''Meu pai sempre me deu muito apoio. Já a minha mãe sempre reclamou. Ela falava que eu iria ficar com as pernas machucadas e que mulher não podia ter pernas feias e marcadas. Quando eu saía para jogar, ela me chamava de Fabianinho! (risos). Hoje ninguém fala mais nada, minha mãe já desistiu. Meu namorado me apoia”, conta a também jornalista Fabiana Maia.
Para acabar com esse tabu, Bibi conta que trabalha para levantar a bandeira do futebol feminino mostrando que a “pelada” pode ser algo comum na vida das mulheres e explica que até o nome do time surgiu inspirado nisso.
“Se eu mostrar que é a mesma menina que namora, que vai para a balada e que joga futebol, cria um maior interesse. O homem joga pelada. A pelada do homem é se encontrar com os amigos, conversar. O que eu queria passar para as meninas era isso. Então, homens jogam pelada, as meninas, pelado”, explica.
(por Aline Küller)