Árbitra de MMA usa experiência de engenheira no ringue e mira UFC
UOL Esporte
(Foto: Francisco Brasil/Eventosmma.com.br/Divulgação)
Mariana Faria, engenheira de 24 anos, poderia ter resumido seu gosto por lutas a treinar muay thai por diversão e assistir ao UFC na TV. Ou até virar lutadora. Mas não. Hoje a paulista divide seu tempo entre o seu trabalho regular e um sonho mais ousado: de ser a primeira brasileira a arbitrar uma luta do UFC. A jornada é recente, começou em maio, mas com pulso firme e jogo de cintura, ela tem chamado atenção dentro e fora do ringue.
O fato de ser mulher não passa em branco. “É verdade, já ouvi alguns xavecos. Tem pessoas que vem, elogiam, mas prefiro pensar que não tem relação por eu ser árbitra. Tem de saber dosar, ter jogo de cintura”, conta ela, que cuida para minimizar este fator.
“Meu trabalho é o mesmo (que o dos homens). Não posso aparecer no evento com uma roupa decotada, já me perguntaram por que não uso roupa de ginástica. Árbitro já usa roupas mais fechadas e veste preto para não se destacar. Há essa preocupação”, explica Mariana.
Mas essa luta contra os rótulos e as dificuldades de ser uma mulher é comum para ela e passa quase despercebida. Afinal, desde os 15 anos ela trabalha no ramo da engenharia, normalmente apenas lidando com homens.
“Eu me relaciono o tempo todo com homens. Sempre fui a única mulher. Trabalho com engenharia de produção em uma empresa automotiva e, para eu colocar em prática minhas ideias, tenho tenho que pisar firme e me impor. Tenho que ser muito concentrada. E é assim como árbitra também”, diz a jovem.
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A relação de Mariana com as lutas começou por meio de uma amiga. Ela acabou indo parar no muay thai e não parou mais de treinar. Tem interesse, inclusive, de ser lutadora, mas a falta de tempo a impede, já que se divide entre os estudos, trabalho e agora a carreira de MMA.
Enquanto treinava, a paulista teve a oportunidade de fazer um curso de arbitragem, gostou e apostou em investir nisso. Para desgosto da família, a princípio.
“Minha mãe sempre achou que fosse área mais para homem. ‘Você vai apanhar’, ela falava. E eu explicava que não sou lutadora, sou árbitra. Mas hoje ela já é superempolgada e meus pais me incentivam, dizem que tenho o perfil para isso”, conta Mariana, que fez o curso em novembro de 2012. Ela diz que conhece outras árbitras, mas que foi a primeira certificada do país – pela confederação brasileira de muay thai.
VEJA MARIANA EM AÇÃO EM LUTA COM NOCAUTE EM 19 SEGUNDOS
A oportunidade de estrear foi em maio, no Evolution of Fighters. “Teve quatro lutas de MMA e eu arbitrei duas delas. Depois disso, também já fiz lutas femininas”, detalha ela. “A primeira sensação foi de receio. Eu queria fazer a coisa certa e queria que nada acontecesse com os lutadores, que é sempre nossa primeira intenção. Fiquei ansiosa, mas separei bem as coisas e deu tudo certo.”
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Mariana conta que, uma vez no ringue, a concentração é tanta que nem se presta atenção ao barulho de fora. Nem os elogios, tão pouco as críticas. “Não sei dizer se chega a haver preconceito, mas o pessoal não está acostumado. Ou admiram, por ser diferente, ou já pensam: ‘não vai dar certo’. Já houve atletas e técnicos que não aceitaram minhas decisões, mas estou preparada para isso também.”
A árbitra elege como ídolos o veterano “Big” John McCarthy, conhecido por estar no UFC desde os primórdios, e Roberto Thomaz, o Robertão, que a acompanha e é o principal mestre da jovem. Luta a luta, ela tenta subir os degraus para realizar seu maior sonho.
“Com certeza eu quero chegar ao UFC. Temos a oportunidade de ser vistos pelo mundo todo, então eu poderia mostrar meu trabalho, o trabalho das mulheres e que temos grandes profissionais aqui no Brasil”, concluiu ela.
Maurício Dehò
Do UOL, em São Paulo