União faz a força? Esposa fisiculturista incentiva campeão do vôlei
UOL Esporte
“A seleção brasileira foi ao Domingão do Faustão, na [TV] Globo, há uns dez anos. Ele perguntou sobre o pós-carreira, e eu falei que ia fazer fisiculturismo quando deixasse o vôlei. Falei meio de brincadeira, mas é um esporte que eu admiro muito”. O relato do meio-de-rede Henrique, 35, que defende o Vivo/Minas, é um exemplo do quanto ele sempre teve interesse pela musculação. Há três anos, porém, o atleta ganhou mais um motivo para se dedicar ao dia a dia das academias. A mulher dele, Úrsula, resolveu iniciar uma carreira de fisiculturista.
Úrsula, 43, nadou durante 15 anos no Minas Tênis Clube. No entanto, a atleta não era um exemplo de vida saudável. “Ela até fumava quando nós nos conhecemos”, contou Henrique. Os dois estão juntos há 14 anos (12 anos de casados) e têm um filho, Luca, de oito anos.
“Ela sempre malhou, mas fumava. Eu até dizia que isso não combinava. Ela foi parando de fumar aos poucos, e graças a Deus parou. E a alimentação dela até que era regrada”, continuou o jogador de vôlei.
A mudança mais radical na vida de Úrsula aconteceu quando ela completou 40 anos. “Eu entrei na crise dos 40. Pensei: estou velha e acabou. A mulher fica meio deprimida nessa fase, mesmo. Fiquei pensando no que eu podia fazer para mandar uma mensagem ao meu corpo e não desistir. Foi aí que eu pensei no fisiculturismo, um esporte que não tem idade. Na última competição que eu disputei, conheci atletas com mais de 80 anos”, disse a atleta.
O primeiro passo de Úrsula na nova modalidade foi procurar o treinador Waldemar Guimarães, que montou um planejamento de dieta e atividades para ela. Depois, a atleta conheceu Kenji Takahashi, que preparava fisiculturistas para competições e vivia em Belo Horizonte.
“De cara, ele perguntou se eu queria disputar o Campeonato Mineiro em menos de dois meses. Eu era de outra categoria, a bikini, que tem meninas mais magrinhas”, explicou Úrsula.
A disputa na categoria bikini serviu para duas constatações: Úrsula queria realmente ser fisiculturista e preferia disputar com mulheres maiores: “Eu não podia pegar muito peso e tinha de estar muito magra. Preferi mudar”.
A mulher de Henrique migrou para a categoria body fitness. E aí, com possibilidade de aumentar consideravelmente as medidas, mudou totalmente a rotina – exercícios e alimentação, principalmente.
“O prazer de comer uma fritura, por exemplo, eu nunca mais tive. Doces, raramente. E isso muda junto a vida social. A vida social do brasileiro está muito ligada à comida. Minha vida social diminuiu muito depois que eu adotei esses hábitos”, afirmou Úrsula.
A evolução precoce reflete a persistência de Úrsula. E tudo isso só aconteceu porque ela teve um grande incentivador desde o início: Henrique, o marido, que já era apaixonado por fisiculturismo antes mesmo da incursão da mulher pela modalidade.
“Quando eu entro numa fase de competição, minha alimentação é muito regrada e eu fico de mau humor porque é pouca comida. Além disso, são poucas coisas que eu posso comer. Aí eu até peço para ele arrumar as coisas dele. Mas no dia a dia ele me acompanha. Se eu vejo algo para a minha dieta, logo ele quer fazer também”, disse a fisiculturista.
Fã de Arnold Schwarzenegger, Henrique sempre leu revistas sobre fisiculturismo e gostou de musculação. O reflexo disso é um biótipo pouco comum para jogadores de vôlei – o meio-de-rede, que tem 2,01m, é mais forte do que o padrão da modalidade.
“Eu comecei a perceber que a musculação, se bem feita, podia me ajudar nas quadras de vôlei. Tentei encaixar isso da melhor maneira possível. Cresci assistindo ao Schwarzenegger e queria ser igual, mas não posso ficar muito grande para não sobrecarregar as articulações”, explicou o meio-de-rede, dono dos melhores aproveitamentos em saque e bloqueio na história da Superliga masculina.
Henrique conquistou quatro títulos da Liga Mundial e um da Copa do Mundo com a seleção brasileira de vôlei. E sempre usou a musculação para ajudar no esporte – a ponto de ter recebido, pelo tamanho e pela vibração, o apelido de “Hulk”.
“Vivi uma situação engraçada por causa disso. Estávamos em uma fase final da Liga Mundial, e o Bernardinho dividiu o grupo em dois. Uma parte foi para a musculação, e outra ficou treinando defesa. Como eu fui para a academia, sentei a mão no peso. Aí o preparador físico entrou e chamou todo mundo para um coletivo. Eu, todo duro da musculação, fui direto para o saque. Saquei por baixo da rede, no pé do Bernardinho. Ele olhou feio e perguntou se aquilo era um campeonato de vôlei ou de supino”, lembrou Henrique.
Durante toda a sua carreira, Henrique seguiu com a rotina de treinos concomitantes de vôlei e musculação. E segundo o central, que fará 36 anos em abril, essa é uma das explicações para a longevidade no esporte.
“Sinto como se eu fosse um moleque de 20 anos. Não tenho dores, não tenho problemas musculares. Estou ainda melhor do que eu estava quando era mais novo. Tenho certeza de que isso é porque eu sempre me preocupei comigo e sempre deixei a máquina bem cuidada”, avaliou o meio-de-rede, que ainda reluta ao falar sobre aposentadoria: “Quero jogar mais uns dez anos, pelo menos. Não vejo razão para parar enquanto estiver bem. E como eu tenho os recordes de bloqueio e saque da Superliga, espero aproveitar esse tempo para aumentar a ponto de ninguém chegar perto”.
O momento em que Henrique vai deixar as quadras de vôlei ainda é incerto. O plano para o futuro, não. O central já sabe que vai seguir a mulher e aderir ao fisiculturismo.
“É um estilo de vida que eu vou levar para sempre. Acho que a categoria Men’s Physique é uma possibilidade bacana para mim. Eu nunca vou deixar de gostar disso. Então, brincar ali em cima do palco de vez em quando é uma boa”, concluiu o atleta.
Guilherme Costa
Do UOL, em São Paulo