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Isabel conta como foi jogar grávida e voltar a treinar dias após o parto

UOL Esporte


Isabel é mais uma das super mulheres que sempre se desdobraram entre os filhos, a vida profissional, o papel de esposa e dona de casa. Mas Isabel foi além, se tornou praticamente uma heroína. Ela teve quatro filhos sem parar de jogar e construiu uma das principais carreiras da história do vôlei do país.

Quando se fala em esporte e maternidade, Isabel é um dos maiores expoentes. As cenas da atacante disputando partidas já com a barriga proeminente são lembradas até hoje e criaram grande repercussão na época em que atuava no Flamengo.

Na primeira gestação, de Pilar, hoje com 35 anos, a mãe seguiu as regras tradicionais e parou no início da gestação. A partir da segunda, Isabel já se sentiu mais segura e jogou até a reta final da gravidez. Mesmo as limitações físicas por causa do ganho de peso não a impediam de jogar.

“Eu achei que devia parar quando o assunto de jogar grávida ficou maior do que o meu jogo, virou um assunto. Começou a incomodar. Perguntar como é jogar grávida, como eu estava jogando, se eu tinha limitação, tudo bem. Falar disso não era problema, eu entendia que gerava curiosidade. Mas vôlei é um esporte coletivo, aí você começa a virar um pouco atração, já não era mais legal, jogar ali naquele momento, já estava em vias de parar”, disse.

Além da gravidez, os partos que amedrontam tanto as mulheres nunca foram um tabu para Isabel. Dias depois de dar à luz, ela sentia a necessidade de se sentir ativa e já estava em quadra para os treinos. Após ter Pilar, foi convocada para a seleção brasileira adulta pela primeira vez quando ainda amamentava.

“Sempre voltei muito rápido. Não adianta antecipar, cada um cada é cada um, não tem uma fórmula. Mas para mim sempre foi muito tranquilo, sempre tive partos normais, o que facilita muito. Quando o neném nascia, tinha vontade de dar uma mexida, dar uma suada. Saía do hospital e ia na mesma hora várias vezes”, conta.


Com tanta dedicação ao trabalho, Isabel precisava de apoio em casa para dar conta de quatro crianças. Aí ela contava com um pequeno estafe e a parceria dos filhotes. O motorista Nelson e a funcionária Severina foram fundamentais nesse processo.

Quando foi jogar no Japão, Isabel não só levou a família toda, como também Severina e seu filho Thomaz. Eram então cinco crianças, o que dava até um ar de aventura à vida da família.

“Nunca teve muita frescura. Mas quando você é jovem, você não vê muita dificuldade nas coisas, vê um lado mais prazeroso. E as crianças se ajudavam, se tornaram mais generosas, mais parceiras, aprenderam a dividir e aceitar as diferenças. Era mais confuso não ter uma vida tão regular, certinha, mas por outro lado eu proporcionei para eles coisas diferentes. Eles puderam ver um pouco do mundo, culturas, pessoas, histórias, isso tudo foi muito legal”.

Os filhos com certeza aprovaram os passos da mãe, já que quase todos seguiram o mesmo rumo. Com exceção de Pilar, que virou figurinista, Maria Clara e Carolina formaram uma dupla no vôlei de praia e, curiosamente, Carol também seguiu jogando durante a gravidez. Pedro Solberg também adotou a mesma profissão.

Hoje, aos 53 anos, Isabel sente orgulho de sua história e vê pontos positivos e negativos em conciliar as funções.

“Eu não queria esperar encerrar a carreira para ter. Queria viver essa experiência durante e achei que dava para conciliar. Mas você fica grávida e gera uma apreensão ‘será que vou conseguir voltar?’ porque envolve muita coisa, muda o seu corpo, limita. Às vezes você está em um bom momento, no auge e tem que parar durante um longo período, fica num certo ostracismo, não está mais no centro das atenções. Por outro lado, é muito estimulante ter um filho. E tem o lado bom de você reavaliar seu percurso, como você está conduzindo. E você bota o pé no chão, fica mais forte”.

Isabel resume a maternidade de um jeito bem criativo a função de ser mãe. “É o último pedaço do bolo, você quer comer, mas você dá com o melhor prazer. Sem sofrer e sem falar ‘que merda’. Você fala ‘vai fundo’ achando ótimo”, conta com a leveza com que conciliou os papeis.