Mãe de árbitros se acostuma com ausência e não exige presente
UOL Esporte
Ser mãe de árbitro costuma render alguns problemas e comentários pouco elogiosos, mas ter dois filhos na posição mais ingrata do futebol é algo para poucas. Esse é o caso da dona Tereza, mãe dos árbitros Paulo Cesar de Oliveira e Luiz Flavio de Oliveira.
Habituada a ouvir piadas e brincadeiras sobre a atuação dos filhos, a senhora de 79 anos também já se acostumou com a ausência da dupla na comemoração do Dia das Mães, rotina que se repetirá neste domingo, na sua casa em Cruzeiro, cidade no interior de São Paulo.
- Paulo Cesar de Oliveira é um dos principais árbitros do país
“Olha, não sei dizer quando foi a última vez que os dois estiveram em casa no Dia das Mães. Acho que ano passado o Luiz Flavio veio, mas o Paulo não. Mas os outros filhos virão e as noras também. A mulher do Paulo brincou que representa o marido. E eles sempre ligam para dar os parabéns”, disse Tereza ao UOL Esporte.
Para ver os filhos, a mãe dos árbitros terá de recorrer à televisão, pois Paulo Cesar de Oliveira, de 39 anos, apitará o primeiro jogo da final do Torneio do Interior entre Penapolense e Ponte Preta, em Penápolis, e Luiz Flavio de Oliveira, de 35 anos, será o juiz do clássico entre Cruzeiro e Atlético-MG na final do Mineiro, em Belo Horizonte.
Dona Tereza não costuma assistir aos jogos e assume que entende pouco do trabalho dos filhos, por isso não costuma palpitar.
“Só vejo a entrada deles no campo, dificilmente assisto até o final. E não entendo as regras, nunca me interessei. Só sei quando sai gol”, conta, aos risos.
Apesar de não assistir a atuação dos filhos, Tereza, como toda mãe, defende os dois com firmeza e até esconde o time do coração dos árbitros na infância.
“Sempre ouço comentários, ficam falando que não era pênalti, que eles erraram. Mas errar é humano, é normal. E eu confesso que não lembro o time deles, mas eles gostavam muito de futebol, o Paulo jogava no campinho em frente de casa”, lembra.
- Luiz Flavio de Oliveira seguiu os passos do irmão mais velho
Dona Tereza também relembrou a dificuldade que foi para os dois se formarem árbitros. Mãe de 11 homens – o primogênito morreu com apenas oito meses – a dona de casa teve de criar os dez filhos sozinha depois de seu marido, Benedicto, morrer em decorrência de um derrame há 31 anos.
''Foi sempre com muita dificuldade. Nós tínhamos um bar, mas depois que o Benedicto morreu, eu aluguei o ponto e contamos com a ajuda da família e da igreja. Os meninos também sempre trabalharam e ajudavam em casa”, lembrou.
O domingo do Dia das Mães será, como já é tradição, na casa em Cruzeiro e um belo almoço está sendo preparado. Para dar uma folga para Tereza, os filhos só deixam o arroz sob responsabilidade da mãe, que é modesta e nem escolhe qual presente quer ganhar.
''Eu não peço nada, cada um dá o que pode. Pode ser blusa, calça, sandália. O que importa é ver a família toda reunida'', finalizou.
Lucas Tieppo
Do UOL, em São Paulo
Crédito da foto: Foto:Ayrton Vignola/Folhapress – Foto tirada em 2005