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Elas são feias e incomodam, mas as lutadoras não vivem sem: as trancinhas

UOL Esporte

Ser uma mulher e lutar não é fácil. O preconceito ainda é grande, os sacrifícios perto do que passam os homens é ainda maior e manter a feminilidade quando se está pronta para se atracar com uma rival é quase impossível. Um detalhe fundamental para a maioria das competidoras é: o que fazer com o cabelo? A solução costuma ser apostar nas trancinhas, o ‘look’ mais usado no octógono do UFC – e algumas vezes até por homens.

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E as trancinhas não solucionam nenhum daqueles problemas, admitem as lutadoras. A obrigação de terem seus cabelos firmes e bem amarrados para que eles não atrapalhem na hora da ação acaba jogando contra as garotas mais preocupadas com o visual: “eu acho muito feio”, admite a adepta do penteado Bethe Correia, uma das brasileiras do UFC.

O UFC não determina como lutadores de cabelo comprido devem agir. Isso fica a cargo das comissões atléticas que regulamentam o MMA no local das lutas, mas poucas vezes há exigências neste sentido. Acaba partindo dos próprios atletas a tendência de apostar nas trancinhas como melhor forma de segurar os fios.

Bethe Correia, número 12 no ranking feminino e invicta em sete combates, costuma fazer as trancinhas em parte do cabelo, completando o visual com rabo de cavalo. Mas nada disso a convence de que vai “arrasar” no visual no octógono.

HOMENS TAMBÉM ADEREM

  • Não são só as mulheres que aderem aos penteados, trancinhas e elásticos no cabelo. O mais famoso a usar o artifício é Urijah Faber – que já lutou pelo cinturão com Aldo e Barão. Um caso famoso foi o de outro cabeludo, Clay Guida, que costuma ir ao octógono com os seus fios bagunçados, num estilo mais ''ogro'' de ser. Contra Gray Maynard, a equipe do rival entrou com um pedido na comissão atlética de New Jersey para evitar que ele lutasse com os cabelos soltos. Guida teve de obedecer e assim surgiu este visual da foto acima.

“Eu não acho bonito não, eu acho muito feio! Acho que fico feia, eu acho que todas ficam feias. A gente fica com a cara meio modificada, perde a feminilidade todinha. E além de tudo incomoda. Puxa um pouquinho. Eu mando fazer bem firme mesmo: ‘bota tudo aí para não soltar nada’. Mas você se acostuma”, conta Bethe. “É o jeito. Eu sou vaidosa até um certo limite, mas na hora da luta as coisas são tensas. Não dá pra pensar nisso.”

A paraibana de Campina Grande já chega à semana de lutas pensando em como vai ajeitar os cabelos. Por sorte, ainda não teve de tentar compor o visual sozinha.

“Eu sempre levo comigo um kit de presilhas, caso precise eu mesmo fazer. Logo que chego no hotel em semana de luta, eu vou a salões de beleza próximos ao hotel e quando tem alguém que faça eu já marco um horário”, conta ela, antes de explicar. “Não tem como lutar sem estar com o cabelo bem firme e amarrado. Qualquer coisa que caia no olho você naturalmente vai mexer, então é uma distração que pode te fazer levar um golpe.”

Bethe acaba usando as sessões no salão de beleza quase como um spa relaxante. “Demora um pouco para fazer, geralmente fico duas ou três horas. Então, geralmente eu vou no dia da luta. Acordo de manhã, tomo meu café da manhã reforçado e vou para o salão. Sempre aproveito para fazer manicure e pedicure – luto sempre com as unhas feitas – e é um momento para relaxar. Dá para refletir, distrair a mente, é melhor do que ficar no hotel, pensando só na luta”, afirma ela.

Jéssica Andrade, mais uma brasileira do Ultimate e atualmente nona no ranking, também usa as trancinhas, mas as faz em versão mais “light”. Ao chegar ao hotel antes dos combates, ela pede ajuda da organização para encontrar alguma cabeleireira e passa cerca de meia-hora no dia da pesagem ou da luta ajeitando as madeixas. E não se incomoda com o resultado.

“Atrapalha menos, segura melhor o cabelo e não deixa desarrumar. Eu acho que fica legal, mais apresentável. O cabelo não fica subindo e deixando aquela bagunça”, ri Jéssica.

Uma coisa em comum entre as lutadoras é o momento prazeroso após uma vitória: quando podem dar liberdade aos cabelos.

“Eu fico doida para tirar logo, e dá um trabalho! Fico um tempão tirando, às vezes arranca até tufo de cabelo junto”, diz Bethe. “Mas é uma das primeiras coisas que faço: soltar meu cabelo, tomar um banho e ficar bem livre mesmo, acabar com toda aquela tensão da luta.”

Jéssica Andrade venceu recentemente Raquel Pennington por pontos e ainda não tem compromisso. Bethe vem de triunfo contra Julie Kedzie e retorna em 26 de abril contra Jessamyn Duke.

Maurício Dehò
Do UOL, em São Paulo