Ela foi a tenista nº 1 do país. Hoje ganha a vida com quadros e desenhos
UOL Esporte
Por 11 anos, Roxane Vaisemberg viveu a rotina do tênis. Por um lado, teve viagens por todo o mundo, vitórias em torneios de ponta e chegou a liderar o país no ranking da WTA. Por outro, enfrentou as restrições que ser uma jogadora profissional demandam. Desde o ano passado, a paulistana jogou tudo para o alto. Discretamente, aposentou-se do tênis para perseguir um sonho em que ela conseguia soltar as amarras do passado: o de ser artista.
Passados poucos meses da decisão de deixar as quadras, Roxane já achou o seu novo espaço para trabalhar. Se durante seus anos de circuito ela já chegou a faturar uns trocados com caricaturas dos três melhores jogadores da atualidade, hoje seu lado artista é mais profissional, com uma loja virtual (www.roxane.com.br) em que vende quadros, camisetas, capinhas para celular e outros produtos.
Sem certo e errado
- “Na arte você não tem certo e errado, não tem horário para começar, terminar… É livre”, fala Roxane, quando tenta explicar o que mudou em sua vida desde que pendurou a raquete. A mudança foi radical. Se antes havia a obrigação de treinos de horas por dia e dieta restrita, hoje a brasileira tem uma vida bem mais flexível. “O tênis me prendia um pouco. Tenho saudades, mas não da rotina do tênis, e sim de estar num esporte. Antes eu treinava por um objetivo, então é estranho sair para correr por correr. Hoje, se quiser eu posso desenhar às 3h da manhã, posso ir passear com o cachorro, ir ao cinema. É como se tivesse vivido a vida como ela queria e agora estou vivendo como quero. Hoje eu me conheço melhor.”
O que fez a paulistana de apenas 24 anos se aposentar do tênis foi a dificuldade de se manter presa a uma realidade em que ela sentia não se encaixar. “Eu sou apaixonada pelo jogo em si, mas nunca me identifiquei com a vida de tenista. É um meio egoísta, fechado. Fora da quadra nunca fui feliz”, contou Roxane, ao UOL Esporte. Quando ela se mudou para Serra Negra para treinar e não viu melhoras, atrapalhada por uma série de lesões, “foi o fim do relacionamento.”
Além de representar o Brasil na Fed Cup, a tenista chegou a ser a número 1 do país brevemente e teve como sua melhor posição no ranking da WTA a 236ª posição em 2011. Foi durante suas longas viagens e os monótonos dias de chuva que o lado desenhista de Roxane foi crescendo.
“Desde pequena eu sempre desenhei, era minha válvula de escape nos torneios. Em dias de chuva, nos aeroportos, esperávamos muito tempo. Então, tinha meu caderninho e sempre desenhava. Alguns jogadores e treinadores viam e elogiavam. Eu também passei a pesquisar sobre arte. Enquanto o pessoal ia para as lojas fazer compras, eu ia procurar livros de arte. E fui praticando até achar meu estilo. Gosto muito de grafite, não sou muito do realismo – para mim já basta a vida real (risos).”
Em certa ocasião, há pouco mais de um ano, Roxane partiu para uma temporada de oito semanas nos Estados Unidos. Lá, morou por um tempo em uma casa de família e virou hóspede de uma mulher que também gostava de arte. Como os dias de chuva a tiraram de ação, a brasileira logo procurou uma loja de materiais para produzir seus desenhos. Foi quando lhe deram a ideia de fazer caricaturas de astros do tênis e surgiram suas versões de Rafael Nadal, Roger Federer e Novak Djokovic.
Roxane prefere não fazer caricaturas, mas cedeu. “Fazer caricatura é algo muito pessoal. Você pode ver uma pessoa do jeito que ela não se vê, então é arriscado”, explica ela. “Mas esses casos foram especiais. Eu precisava de dinheiro e o marido desta mulher com quem morava deu a ideia. Desenhei os três e levei para um torneio. Vendeu em três dias! Cada um por 300 dólares. Vendi três do Nadal, três do Djokovic e dois do Federer”. Roxane ainda fez algumas outras versões dos tenistas e ficou com uma de cada para si, para lembrar da história.
Artista profissional
O afastamento das quadras fez Roxane perseguir um modo para fazer de seu gosto pelas artes uma profissão. Com um pouco de sorte, ela rapidamente achou o rumo que deveria tomar.
A paulistana conta que a sua parceria com a Hebraica como tenista ajudou no processo. O clube sempre custeou sua carreira e ela pôde juntar dinheiro com as premiações. Com menos preocupações financeiras, ela pôde parar e pensar seus próximos passos, escolhendo o que realmente queria fazer.
Roxane começou então a fazer quadros e personalizar diversos objetos: do bongô de seu pai a caixas de madeira. E viu que poderia comercializá-los. Abriu então sua loja online e as coisas fluíram. Hoje ela tem suas máquinas para fazer canecas e capinhas de celular e também vende camisetas, quadros e outros objetos.
“Eu sempre gostei de criar personagens, sempre foi meu estilo. Quando abri o site, fiz parceria com uma página meio hippie e eles têm essa ‘vibe’. Então me adequei a isso”, explica Roxane, sobre seus desenhos de mandalas, apanhadores de sonho e animas como corujas e elefantes.
Roxane nunca apresentou um adeus oficial do tênis – e não crava que nunca voltará. Por conta disso, muitos que a acompanharam nas quadras ainda nem sabem da nova profissão. Hoje, a maioria dos compradores de seu site não a conhece e se espanta em saber que ela foi uma tenista de alto nível e que hoje está vendendo quadros que valem até R$ 2.500.
Links relacionados:
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Maurício Dehò
Do UOL, em São Paulo