UFC ganha toque feminino, mas americana vê preconceito ao tratar lutadores
UOL Esporte
Maurício Dehò
Do UOL, em São Paulo
Sem o destaque dos lutadores ou o glamour das ring girls, há uma função discreta, mas importante dentro dos ringues de MMA: a dos cutmen, os responsáveis por cuidar de ferimentos e garantir a integridade física dos competidores. O UFC recentemente ganhou a adição de sua primeira mulher neste campo geralmente dominado por homens. É a cutwoman Swayze Valentine, uma mãe (solteira) de dois garotos, nascida no Alasca e de belos traços, que faz com que seja difícil acreditar que passe sua vida enfaixando mãos e limpando sangue. Mas é exatamente disso que ela gosta – apesar do preconceito de muitos lutadores e técnicos darem trabalho para ela.
O primeiro desafio de Swayze é conquistar os próprios profissionais do MMA. Há os dois lados, admite ela: alguns não gostam e não querem uma mulher enfaixando suas mãos ou em seus corners; por outro lado, outros já gostaram tanto que não se importaram de esquecer a adrenalina do evento e flertar com a cutwoman.
“Agora que mais pessoas me conhecem, eles conhecem meu trabalho e a maioria dos lutadores não vê problemas quando apareço para fazer as bandagens. Mas há técnicos e lutadores que não querem que eu toque neles! Em outros casos, lutadores e técnicos já deram em cima de mim… Acho que faz parte do trabalho (risos)”, contou a bem humorada Swayze, ao blog.
Apelidade de Rainha dos Cortes, Swayze fez sua primeira aparição no UFC 170, que teve como protagonista a campeã peso galo Ronda Rousey. Mas a jornada nos corners já se estende por sete anos. Tudo começou quando ela foi despretensiosamente assistir a um evento de MMA e viu em sua frente a profissão que queria para seguir carreira. Naquele ponto não era o sangue que a atraia, mas poder fazer parte do show e ser a responsável por deixar os punhos dos lutadores prontos para a ação.
“Minha paixão por tudo isso começou em 2006, quando fui ao meu primeiro evento de MMA. A atmosfera era intensa, é viciante. Eu pude ir para os bastidores e então vi um técnico enfaixando as mãos dos lutadores, preparando as bandagens que ficam sob as luvas. Eu soube bem ali: era aquilo que eu queria fazer”, disse a cutwoman. “Para mim, não há honra maior do que enfaixar as mãos de um lutador. Eu podia ser a primeira ou a 15ª cutwoman no UFC. Não importa, eu estou muito animada só de meu sonho virar realidade. Mas é especial ser lembrada desta forma.”
OS SEGREDOS DA BANDAGEM
Decidida, ela começou a frequentar mais eventos, foi a academias e conheceu diversos cutmen. Como não é necessária formação em medicina ou qualquer outra especialidade, Swayze usou vídeos da internet para copiar nomes já respeitados no cargo, como um dos seus mentores, Jacob “Stitch” Duran, e fez tudo o que podia para se aperfeiçoar na arte de enfaixar as mãos dos lutadores. E se esta parte é sua preferida, lidar com inchaços e ferimentos também não soam como algo ruim para ela.
“Sangue e cortes nunca me incomodaram. Eu cresci no meio disso. Meu pai era bombeiro e também socorria emergências, meu irmão era policial. Sempre esteve no meu sangue”, explicou a bela de 28 anos.
“Passei a viajar sem parar para crescer na profissão. Foi quando em janeiro meu telefone tocou e era o chamado do UFC. Fiz o UFC 170 e terei o privilégio de estar no UFC 171 também”, acrescentou Swayze, que em sua estreia não teve direito a muito: esteve no corner de apenas uma luta e não precisou cuidar de nada grave – “o que é ótimo”, salienta. Ela teve também passagens por eventos como Bellator e World Series of Fighting e sonha poder acompanhar o UFC em uma “descida” ao Brasil.
O segredo do trabalho é simples. Ao menos na teoria: manter a serenidade, para o lutador também ficar calmo, trabalhar rápido e garantir sempre sua a integridade física, minimizando os danos. Apesar de não competir, Swayze treina artes marciais regularmente para conhecer da melhor forma possível a realidade dos lutadores.
Do Alasca para Las Vegas
“Crescer no Alasca é uma experiência única! No verão, é tudo lindo e você tem 23h de luz do dia. Mas no inverno são 20h no escuro. Nove meses de neve e gelo. Mas é um lugar lindo o ano todo, há muito o que fazer, principalmente explorando a natureza. Eu adorava andar de snowmobile, é muito divertido”, contou Swayze, sobre sua infância.
A norte-americana já pensou em trabalhar como veterinária ou como oncologista, ajudando adultos e crianças com câncer. Mas mudou totalmente o foco. Hoje ela tem de dividir o tempo entre as viagens como cutwoman e a criação dos dois filhos. Tudo isso enquanto ainda atrai atenção por onde passa pela beleza.
“Tenho dois lindos garotos e tenho de dividir meu tempo como posso. Sempre que estou longe tento refletir como ser uma mãe melhor na volta”, disse Swayze.
“Nunca trabalhei como modelo, mas gosto de tirar fotos. Acho que a beleza não tem impacto na carreira. Eu foco na segurança dos lutadores. Se as pessoas me acham bonita, ótimo também. Estou solteira e sou muito ocupada, então é difícil achar alguém que fique ok com isso. Mas estou bem”, completou a loira.