Mulher não pode? Ela carrega 14 kg nas costas, troca pneu e desentorta roda
UOL Esporte
Uma prova de resistência que requer cumprir as seguintes condições: pedalar em trechos de instabilidade e também carregar nas costas a bicicleta de aproximadamente 14 kg. Parece fácil? Mas e se a roda entortar? E se o pneu furar? Acha que é só chamar o mecânico que resolve? Se pensa nessa solução, está enganado. Tem é que resolver sozinho. Ou, sozinha, em uma prova de mulheres. É isso o que faz a paulista Bia Ferragi, 26 anos, para competir.
Bia é advogada e começa sua rotina diária antes das 6h da manhã para conciliar os treinamentos e a vida profissional. Mescla as leis com a graxa e lama das competições. Ela compete em provas de resistência de ciclismo, como Cross Country, Enduro e Downhill. Foi a primeira brasileira a competir em uma prova de enduro, na etapa do Chile do Enduro World Series.
Nesta competição, relata um pouco do sofrimento que teve ao ter que desentortar rodas e até tapar o furo de um pneu para continuar a competir. E como é que faz isso, Bia?
“No Chile tive um pneu furado e a minha roda entortou. E logo quando a roda entortou, eu caí. Tive que levantar e arrumar. Segurei com as duas pernas o pneu da frente e o braço agarrando o guidão para desentortar a roda. Você vai girando até ela se ajeitar. Não fica perfeito, mas ajuda. Continuei mesmo assim”, falou.
E para arrumar o pneu furado? “Tem que tirar o pneu da bicicleta, desmontá-lo e depois é necessário encher a câmara e descobrir onde está o furo. Sou eu mesmo quem tenho que consertar. Você faz um remendo na câmera do pneu, nós andamos junto com um kit de remendo. Você passa a cola, fecha, enche ele de novo e põe a roda. E depois continua”, completou.
“E isso ainda foi falha de equipamento meu, que é uma coisa recorrente. Ainda que meu tênis descolou durante a prova e ficava entrando pedras. Quando termina a prova, parece que voltou da guerra E como é que se faz treinamento para situações como essas”, questionou.
Como inspiração para outras mulheres que desejam colocar a resistência à prova, Bia conta que não é necessário começar desde criança para se acostumar. Passou a competir há pouco tempo e já foi bicampeã paulista de downhill e a competição nacional Montanhas Race Enduro.
E tudo começou por indicação do então namorado, e hoje marido. “Por incrível que pareça, vou completar três anos de bike em outubro. Comecei a andar com meu namorado na serra da Cantareira e gostei demais. Ele participava de algumas competições só pra tirar uma onda”, contou.
“A primeira corrida que corri foi em Socorro em 2011. Não fui tão bem. E daí comecei a melhorar, melhorar e as coisas fluíram bem. Comecei a me identificar com a bicicleta. As coisas deram certo e comecei a me animar e obter resultados”, continuou.
A receita, no entanto, não é fácil. Treinos diários no fim de tarde e até no final de semana. “Prefiro fazer os treinamentos no final de tarde. Mas durmo cedo, acordo bem cedo pra dar duro. E sou muito organizada comigo mesmo pra coordenar essas coisas.”