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Crupiê vira jogadora, ignora cantadas e ganha etapa do Brasileiro de pôquer

UOL Esporte

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Igianne Bertoldi se destaca em uma mesa de pôquer. Não pela beleza indiscutível da catarinense de 24 anos. Na semana passada, ela ignorou as cantadas que recebe com frequência para conquistar uma etapa do Bsop, o Campeonato Brasileiro de pôquer. Em seu primeiro torneio profissional, desbancou nada menos que 568 competidores e levou o prêmio de R$ 178 mil.

Na mesa, nada de brincadeiras. O jeito de menina e o sorriso fácil dão lugar ao semblante sério e camuflado pelos óculos escuros. A inexperiência passa imperceptível diante do estilo agressivo e da boa visão de jogo, táticas adquiridas com o trabalho como crupiê.

Foi também como crupiê (quem embaralha e distribui as cartas para os jogadores) de um grande clube de pôquer de Balneário Camboriú-SC, que Igianne aprendeu a ignorar as cantadas dos engraçadinhos e se concentrar apenas no trabalho.

“Recebo cantadas, mas eu tiro de letra. Como dealer isso acontece ainda mais. No torneio, alguns soltaram elogios ‘nossa, como você é linda’. O pessoal acha bacana ter mulher na mesa, diz que o pôquer está mais bonito”.

“Mas os jogadores estavam muito mais preocupados com o jogo e isso acaba se tornando pequeno. Senti bastante respeito nas mesas, não tinha essa diferença por ser mulher. Fiz o meu jogo, fui agressiva e consegui”, disse.

Mesmo com preconceito que ainda ronda o esporte, Igianne acredita que o pôquer é um ambiente de homens cavalheiros e diz que sempre foi muito respeitada. Mas ela admite que ser mulher tem as suas vantagens, tanto que já está atraindo atenção de patrocinadores. Agora, espera que seu feito incentive mais as meninas que ainda são pouco numerosas no esporte.

ig2“Eu acho que a minha conquista pode incentivar as mulheres a fazerem mais no esporte. A mulher pode ver que dá para chegar, que pode jogar de igual para igual. Não tem porque haver essa diferença tão grande de competidores. Já tem muitas meninas que estão mandando mensagem e dizendo que estavam torcendo por mim. Achei bem legal”.

O feito de Igianne é mesmo de se valorizar. Ela se tornou a segunda mulher na história a conquistar uma etapa do Brasileiro de pôquer. Antes dela, apenas Gabriela Belisário, em 2008, havia vencido uma etapa, mas em um torneio realizado em Belo Horizonte com número de participantes muito menor.

Em Foz do Iguaçu, Igianne superou os homens, que formavam quase 90% dos competidores, e o cansaço. O torneio durou quatro dias – sendo dois apenas para a fase de classificação e dois paras as finais. Eram praticamente 12 horas de trabalho ininterrupto até sobrarem nove competidores na mesa final.

“Quando cheguei à final, pensei ‘agora eu não vou morrer na praia’”, diz ela que revela o segredo de sua conquista. “Como dealer sempre observei muito as mãos e fazia bem a leitura do jogo. Ajuda muito a quantidade de mãos que a gente participa, esse lance de ver as cartas, esse volume de mãos que a gente acompanha diariamente como dealer”.

Musas do esporte

Musas do esporte

Igianne agora se prepara para deixar o emprego de crupiê e se tornar uma jogadora de pôquer profissional. Curiosamente, ela se apaixonou pelo esporte de forma despretensiosa depois de ser convidada por amigos para participar de uma mesa. Pouco depois, decidiu abandonar a faculdade de Educação Física e mergulhar de cabeça na modalidade.

A mudança de rumos não foi muito bem vista pela mãe Jussara que se preocupava com os turnos pouco convencionais de trabalho da filha que ‘trocava o dia pela noite’. Mas mudou de ideia e passou a apoiá-la após ver o torneio na televisão e a comoção causada na cidade.

Agora, Jussara deve estar ainda mais feliz com o prêmio de R$ 178 mil que a filha promete usar para investir na carreira.

“A minha ficha ainda está caindo aos poucos. Foi muito emocionante me superar nesses quatro dias no primeiro torneio grande que participo. Agora quero me aperfeiçoar, estudar mais o jogo. Dei o meu primeiro passo como jogadora profissional, é o que eu sempre quis. Está tudo caminhando para que isso aconteça”, celebra.

Por Luiza Oliveira

Crédito das fotos: Luis Bertazini/Divulgação